sexta-feira, 26 de março de 2010
quarta-feira, 24 de março de 2010
To God
terça-feira, 23 de março de 2010
Abba
O Pai
Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.
Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.
Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.
Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.
Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.
O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.
Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...
E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.
Pablo Neruda
segunda-feira, 22 de março de 2010
Sê
domingo, 21 de março de 2010
Carnificina
O Amor é cego
El puente
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Para librarte de ti mismo, |
Helder Cama |
Ele e ela
Ela vivia feliz Ele vivia feliz Ela pensava, reflectia, organizava Ele sentia, amava, intuia. Ela queria crescer. Ele queria tocar. Ela tinha passos curtos e rápidos, os braços sempre direitos e esticados marcavam o ritmo do andar. Ele dava passadas largas, uma mais rápida outra mais lenta, os braços pendia do corpo desarticulados. Ela tinha olhos grandes que viam muitas coisas ao mesmo tempo. Ele tinha olhos pequenos que viam pequenas coisas como se fossem grandes. Ela ria-se em grandes gargalhas expressivas e contagiantes. Ele sorria com ternura. Ela chorava lágrimas gordas. Ele ficava com os olhos marejados de lágrimas quando se comovia. Ela fazia festas aos animais na rua. Ele divertia-se com as suas brincadeiras. Ela zangada, ruborizava-se. Ele zangado, entristecia-se . Ela nunca viu uma estrela cadente. Ele nunca reparou numa estrela cadente. Ela gostava do arco-íris. Ele gostava de todas as cores. Ela e Ele encontraram-se. Ela apaixonou-se. Ele encantou-se. Ela agarrava-lhe a mão com força. Ele recebia-a dentro dos seus braços. Ela tinha a verdade na cabeça. Ele tinha a verdade no coração. Ela nunca mentia. Ele não sabia mentir. Ela e Ele pareciam viver em mundos diferentes. Mas não. Viviam num mesmo mundo mas olhavam-no com olhos diferentes, cada um tinha a sua verdade e nenhuma delas era mentira. Ela e Ele às vezes desentendiam-se porque não viam o mundo com os mesmos olhos. Ela aprendeu a sentir. Ele aprendeu a pensar. Ela aprendeu a intuir. Ele aprendeu a organizar. Ela era feliz. Ele era feliz. Ela e Ele eram felizes um com o outro. A verdade d'Ela amaciou-se. A verdade d'Ele ganhou contornos. | |
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Someone right here
Viver é fugir da morte
Morre lentamente quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem destrói o seu amor-próprio,
Quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma escravo do hábito,
Repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
Quem não muda as marcas no supermercado,
não arrisca vestir uma cor nova,
não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem evita uma paixão,
Quem prefere O "preto no branco"
E os "pontos nos is" a um turbilhão de emoções indomáveis,
Justamente as que resgatam brilho nos olhos,
Sorrisos e soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho,
Quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho,
Quem não se permite,
Uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da
Chuva incessante,
Desistindo de um projecto antes de iniciá-lo,
não perguntando sobre um assunto que desconhece
E não respondendo quando lhe indagam o que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves,
Recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o
Simples acto de respirar.
Estejamos vivos, então!
________x________
Pablo Neruda é um dos melhores poetas do século passado, na minha opinião. E este poema é ideal para iniciar este blog, espero que gostem dele:)